A partir de hoje, 13/03/21, Curitiba está em lockdown por conta da pandemia de COVID-19. Uma medida extrema que atinge e restringe, em diversos aspectos e níveis, todos os setores da cidade. Uma decisão difícil e impopular, com inúmeros impactos sociais e econômicos, que foi tomada pelo prefeito frente à realidade do sistema de saúde na cidade e o avanço da pandemia.
A decisão está embasada em uma leitura de cenário com dados e fatos das últimas semanas, que demonstram um provável colapso no sistema de saúde e perda de vidas por falta de estrutura e condições de atendimento.
Pela perspectiva da Análise Transacional (AT), uma das principais abordagens da psicologia em que atuo, esta decisão foi tomada através da energização do Estado de Ego Adulto. É esta parte da nossa personalidade que considera o aqui-e-agora – a realidade atual, o cenário, o contexto, os dados e fatos – e age para solucionar problemas, tomar decisões e lidar produtivamente com as situações, por mais desconfortáveis que sejam (para ler mais sobre Estados de Ego Adulto, acesse http://quiron.com.br/adulto-integrado/)
Com este cenário de pandemia há um ano, a maioria de nós já estressado e agora uma notícia destas, é natural que fiquemos tristes, desanimado, desesperançosos, com medo, revoltados, com raiva… (Nem sempre conseguimos entrar em contato e ter consciência do nosso panorama emocional. E isso é um problema; mas assunto para outro texto).
Junto com estas emoções, acionamos os nossos mecanismos de julgamento: opiniões, explicações, interpretações que geram movimentos de ataque e defesa aos governos, às teorias conspiratórias, às pessoas que não se conscientizam, à sociedade em geral e por aí vai. (Sem dúvida a nossa capacidade de análise crítica é saudável e necessária, desde que com base na realidade, não em distorções e crenças tidas como “verdades”, o que é uma patologia chamada na AT de Contaminação do Adulto).
Bom, a questão aqui é: por mais que tenhamos nossas crenças e opiniões sobre a situação e, por mais que nossas emoções muitas vezes sejam difíceis de lidar, o quanto somos capazes de acionar o Estado de Ego Adulto e lidar de fato com esta situação, agindo conforme é necessário agir neste momento?
Os profissionais de saúde estão esgotados, o sistema de saúde está em colapso. O governo não está sendo efetivo nos mecanismos de imunização. As pessoas estão morrendo e vão seguir morrendo por falta de capacidade de atendimento. Isso é fato. Ah, mas e o custo emocional de ficar em casa de novo? Ah, mas e as pessoas que dependem do seu trabalho diário? Ah, mas e a responsabilidade do governo? Ah, mas…x, y, z. Sim, tudo isso também é fato e deve ser discutido. Mas numa leitura adulta do cenário neste momento, fazer o isolamento social parece ser o mais adequado e responsável.
Que a gente consiga acolher nossas emoções e impulsos. Que a gente consiga entender que defender nossos pontos de vista sem agir não necessariamente contribuem de fato para o cenário neste momento. Que a gente consiga acionar nosso Adulto e agir de maneira coerente com o que o momento pede, priorizando o valor das vidas.