A Análise Transacional, uma teoria da personalidade humana desenvolvida pelo psiquiatra canadense Eric Berne, propõe o conceito de Posição Existencial, que é de relativa simplicidade para se entender e ao mesmo tempo profundo e útil.

Posição Existencial é uma percepção relativamente estável que temos de nós mesmos e do outro (as pessoas, ao mundo em geral), desenvolvida nos primeiros anos de vida e que permanece como um padrão de “encarar a vida” na vida adulta.

Quando bebês e crianças, estamos à mercê dos conceitos, ideias e julgamentos dos outros, principalmente dos pais, por não termos ainda um referencial próprio. Desta forma, tendemos a acreditar no que nos é transmitido, criando nossas percepções sobre nós mesmos e sobre os outros. Por exemplo, uma criança que for tratada como frágil, que precisa de cuidados constantes e que tem incapacidade para lidar com as situações terá uma autopercepção diferente de uma criança que for tratada como capaz de resolver seus problemas, encarar seus sentimentos autênticos ou lidar com as situações. Da mesma forma que uma criança que ouvir frequentemente que deve se cuidar com as pessoas e que o mundo está “todo errado” terá uma percepção sobre o outro diferente de uma criança que ouve que as pessoas e o mundo têm suas limitações, mas que apesar disso tem muitos aspectos positivos.

Com base neste raciocínio, Berne propôs quatro posições existenciais que englobam dois aspectos: EU/OUTRO e OK/NÃO OK (OK significando saúde psíquica e emocional, capacidade de lidar com a realidade tanto em seus aspectos positivos quanto de limitações, assertividade). As quatro posições são:

  • Eu estou OK / Outro está OK (+/+)

É a única posição considerada saudável, fruto de afeto e aceitação por parte das pessoas mais próximas durante a infância, onde a pessoa respeita a si mesma, ama-se e se considera amada e competente para lidar com as situações de vida, embora tenha uma visão realista de suas deficiências e limitações. Considera o outro (as pessoas, empresas, instituições, sociedades etc) da mesma forma, respeitando e aceitando suas características tanto positivas quanto suas limitações.

Pessoas que vivem predominantemente no +/+ tendem a estabelecer metas de vida alcançáveis e geralmente as alcançam sem prejudicar a si mesmas ou aos outros.

  • Eu estou OK / Outro não está OK (+/-)

Pessoas nesta posição tendem a considerar-se, de certa forma, “o centro do universo” no sentido em que visualizam seus pontos fortes, mas tendem a não enxergar suas limitações ou defeitos, que ficam projetados no outro. Consideram-se mais (fortes, rápidas, inteligentes, cuidadosas, sabidas, capazes etc) que os outros e portanto tendem a não respeitar os pontos de vista das outras pessoas, valorizando suas “verdades”. Atenção para o fato de que este posicionamento pode ser bastante sutil e apenas visível quando se olha com cuidado.

Pessoas com predominância na posição +/- tendem a estabelecer metas que são alcançadas, muitas vezes, com falta de ética (“os fins justificam os meios”) ou a um preço alto para os outros.

  • Eu não estou OK / Outro está OK (-/+)

Sentir-se não merecedor de algo, inadequado, incapaz e não reconhecido pelos  outros são características observáveis nas pessoas em que esta posição existencial predomina. Nesta posição a tendência é sentir-se menos que o outro, adotando uma postura de aceitar passivamente as decisões, ordens, pedidos, pontos de vista do outro sem avaliar os próprios referenciais, adotando certa postura de dependência em relação ao outro.

Tendem a estabelecer metas e não alcançá-las, seja porque são fora das possibilidades reais ou por processos de autossabotagem que as impedem de alcançá-las.

  • Eu não estou OK / Outro não está OK (-/-)

Esta posição existencial é caracterizada por uma postura “perdedora” em relação a si e ao mundo. O nível de vitimização pode ser alto e mantido pela crença de que não existem alternativas para se lidar com os problemas da vida cotidiana, com as pessoas ou com situações específicas. As sensações de inadequação e de “sentir-se refém” tornam-se mais fortes através de crenças do tipo “Para que? Não adianta mesmo, nada vai mudar! Não tem jeito, sempre foi assim.”

Em relação a metas, podem simplesmente não estabelecê-las ou escolher desafios cuja probabilidade de alcance é remota, para assim confirmarem ao final que “realmente não adianta”.

A Análise Transacional considera que existe uma Posição Existencial preferencial e mais constante, entretanto o indivíduo pode (e geralmente o faz) adotar outras Posições durante um período de tempo ou em determinadas áreas da sua vida.

Conscientizar-se de que existem opções para permanecer na Posição OK/OK nas mais diferentes situações de vida pode ser considerado um dos valores da AT e um convite para o autodesenvolvimento e amadurecimento com consciência.

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